Basta que me toques


Olá pessoal! Hoje em  especial desejei compartilhar com vocês algo que mexe com minha alma e o meu coração. E para isso quero fazer uso de um texto compilado do livro de Max Lucado “Simplesmente como Jesus” e aconselho você a lê-lo se puder. Viaje comigo neste texto e veja onde você se encaixa.
  “Um ano, durante a colheita, percebi que minha mão não podia sustentar a foice com a mesma força. Os dedos estavam adormecidos. Primeiro foi um dedo, e depois, outro. Em pouco tempo podia empunhar a foice, mas nem a sentia. Ao terminar a temporada não sentia nada com as mãos. É como se a mão que empunhava o cabo pertencesse a outra pessoa; tinha perdido toda sensibilidade. Não disse nada a minha esposa, mas ela suspeitava de algo. Como poderia não suspeitar? Eu levava minha mão junto ao corpo como ave ferida.
Uma tarde enfiei a mão numa bacia de água para lavar o rosto. A água ficou vermelha. Um dedo sangrava, com hemorragia. Nem sabia que me havia machucado. Como me cortei? Com alguma faca? Será que encostei a mão em algum objeto afiado? Deve ter sido, porém eu nada tinha sentido.
— Está também na sua roupa — disse minha esposa com voz fraca. Ela estava atrás de mim. Antes de olhar para ela, fitei as manchas vermelhas em minhas vestes. Por longo tempo fiquei sobre a bacia, contemplando minha mão. Algo me dizia que minha vida tinha sido alterada para sempre.
— Você quer que eu o acompanhe para ver o sacerdote? — me perguntou.
— Não — disse eu com um suspiro —. Irei sozinho.
Me virei e vi seus olhos úmidos. Junto dela estava nossa filinha de três anos. Abaixando-me, olhei diretamente em seus olhos e acariciei sua face, sem dizer nada. Que poderia dizer? Endireitei-me e olhei para minha esposa de novo. Ela me tocou no ombro, e com minha mão boa toquei a dela. Seria nosso toque final.
Cinco anos se passaram, e desde então, ninguém mais havia me tocado, até agora.
O sacerdote não me tocou. Olhou para minha mão, que agora levo envolvida num pano. Olhou para meu rosto, agora obscurecido pela tristeza. Nunca o culpei pelo que me disse. Simplesmente estava agindo segundo tinha sido instruído. Cobriu sua boca e estendeu sua mão, com a palma para fora. "Você é imundo", disse. Com este pronunciamento, perdi minha família, meus bens, meu futuro, meus amigos.
Minha esposa veio me encontrar nas portas da cidade, com uma sacola de roupa, pão e moedas. Não disse nada. Alguns amigos tinham-se reunido. O que vi em seus olhos foi precursor do que tenho visto em todo olhar desde então: compaixão cheia de terror. Enquanto eu saía, eles se afastavam. Seu horror por minha enfermidade era maior que sua preocupação pelo meu coração; e assim eles, igual a todos desde então, recuaram.
Ah, quanta repulsa sentiam os que me viam! Cinco anos de lepra me deixaram as mãos retorcidas. Faltam-me várias falanges em vários dedos, assim como pedaços de minhas orelhas e do nariz. Ao ver-me, os pais pegam seus filhos. As mães cobrem seus rostos. As crianças me apontam com o dedo e ficam olhando para mim.
Os trapos não podem esconder as chagas de meu corpo. Tampouco o pano com que envolvo meu rosto pode ocultar a ira de meus olhos. Nem sequer tento escondê-la.
Quantas noites não levantei meu punho crispado contra o céu silencioso? "Que fiz para merecer isto?" Porém nunca recebi resposta.
Alguns pensam que pequei. Alguns pensam que meus pais pecaram. Não sei. Tudo quanto sei é que me fartei de tudo: de dormir na colônia, de perceber o fedor. Odiava o maldito sino que tinha que levar pendurado no pescoço para advertir às pessoas de minha presença. Como se precisasse dele. Bastava um olhar e os anúncios começavam: "Imundo! Imundo! Imundo!"
Algumas semanas atrás me atrevi a andar pelo caminho da aldeia. Não tinha nenhuma intenção de entrar nela. O céu sabe que tudo o que eu queria era dar uma olhada nos meus campos. Dar uma olhada em minha casa e ver, por alguma casualidade, o rosto de minha esposa. Não a vi; mas vi algumas crianças brincando num campo. Me escondi atrás de uma árvore e as observei vaguear e sair correndo. Suas faces estavam tão felizes e seu riso era tão contagioso que por um momento, apenas por um momento, não era mais leproso. Era de novo agricultor. Era pai. Era um homem.
Com a infusão da felicidade deles sai de trás da árvore, endireitei minhas costas, respirei profundamente... e então me viram. Antes que pudesse retirar-me, me viram. Gritaram. Fugiram correndo. Uma, porém, ficou. Uma se deteve e olhou para mim. Não sei, não poderia dizer com certeza, mas acho, na verdade acho que era minha filha. Não sei; não poderia garanti-lo; mas penso que ela buscava seu pai.
Esse olhar me fez dar o passo que dei hoje. Certamente foi temerário. Com certeza foi um risco. Mas, o que tinha a perder?Ele chama a si mesmo de Filho de Deus. Ou ele ouviria meu clamor e me mataria, ou aceitaria minha demanda e me curaria. Foi o que pensei. Me aproximei dEle, desafiando-o. Não foi a fé que me empurrou, mas sim uma ira desesperada. Deus tinha feito uma calamidade no meu corpo, e devia restaurá-lo ou então, acabá-lo.
Mas então o vi, e quando o vi, mudei. Lembre que sou agricultor, e não poeta, assim não consigo achar as palavras para descrever o que vi. Tudo quanto posso dizer é que as manhãs da Judéia algumas vezes são tão frescas e o nascer do sol tão glorioso que olhá-lo é esquecer do calor do dia anterior e das feridas do passado. Quando olhei para seu rosto vi uma manhã da Judéia.
Antes que Ele falasse, soube que se interessava. De alguma forma soube que detestava esta doença tanto, se não mais, que eu. Minha ira se converteu em confiança, e minha cólera em esperança.
Oculto por trás de uma pedra, o vi descer da colina. Multidões o seguiam. Esperei até que estivesse a poucos passos de onde eu estava, e então me apresentei.
— Mestre!
Parou e olhou para mim, assim como dezenas de outros. Uma torrente de temor percorreu a multidão. Os braços voaram para cobrir as caras. As crianças se comprimiram detrás de seus pais. "Imundo!" gritou alguém. De novo, não culpo eles. Eu era uma massa malfeita de morte. Porém quase não os ouvia. Quase não os via. Tinha visto mil vezes seu pânico. Contudo, a compaixão dEle quase nunca a havia contemplado. Todo mundo retrocedeu, exceto Ele. Então avançou para mim. Para mim.
Cinco anos atrás minha esposa tinha se aproximado de mim. Ela foi a última a fazê-lo. Agora Ele o fazia. Não me mexi. Simplesmente lhe disse:
— Senhor, tu podes limpar-me, se quiseres.
Se Ele tivesse me curado com uma palavra, teria ficado mais que encantado. Se me tivesse sarado com uma oração, teria me regozijado. Porém não ficou satisfeito com falar-me. Até então ninguém tinha me tocado. Até hoje.
— Quero — suas palavras foram suaves como seu toque —. Sê limpo.
A energia encheu meu corpo como a água num campo arado. Num instante, num momento, senti o calor onde tinha havido insensibilidade. Senti força onde tinha havido atrofia. Minhas costas se endireitaram, e minha cabeça se levantou. Onde eu tinha estado com o olho no nível de sua cintura, agora estava fitando-o ao nível de seu rosto.
Seu rosto sorridente. Tomou minhas faces com suas mãos, e me aproximou tanto que pude sentir o calor de seu hálito e ver a umidade de seus olhos.
— Não fales com ninguém. Mas vai e mostra-te ao sacerdote, e oferece a oferta que Moisés ordenou para os que são sarados. Isso mostrará às pessoas o que tenho feito.
É isso é o que estou fazendo. Vou mostrar-me ao sacerdote e abraçá-lo. Vou mostrar-me a minha esposa, e abraçá-la. Levantarei minha filha, e a abraçarei. Nunca esquecerei o que se atreveu a tocar-me. Poderia ter-me sarado com uma palavra; mas desejava fazer mais que me sarar. Desejava dar-me honra, validar-me. Imagina: indigno de que me toque o homem, e contudo digno do toque de Deus.”
Talvez seja hora de voltar para casa, voltar para os seus. Hora de voltar ao primeiro amor. Ou quem sabe ainda ir atrás daquele que se encontra alongado, caído, carente, desesperançado.
Há tantas espécies de lepras no mundo: do preconceito, da violência, da segregação, do racismo, do abandono etc. Ainda que você seja vítima de algum destes tipos de lepra, saiba que alguém quer tocar-te.
Lembre-se, muitos males e feridas se curam com remédios porém a solidão pode ser curada com um simples abraço.

Um abraço amigo!

2 comentários:

  1. Achei lindo o texto, muitas vezes queremos ser tocadaos ,mas não deixamos, muitas vezes somos tocados e não sabemos retribuir. Como é dificil deixar-se ser tocado???? Seguir em frente , esquecer as mágoas e deixar-se libertar das "sujeiras" que ficam impregnadas em nossa alma e escondem o nosso verdadeiro " eu".

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  2. JANAINA D. VENSKE DE QUADROS16 de janeiro de 2012 às 16:15

    Linda mensagem!!!! Necessito ser curada, espero alcançar também o toque especial do Salvador!!!! abraços...

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