A ESCOLA DA
AUTODESCOBERTA
Como dissemos no artigo anterior, se você
começou ler agora e ainda não leu o artigo O Poço I e II seria
legal se você pudesse fazê-los antes de prosseguir lendo este.
Amigos este texto já estava escrito a algumas semanas
mas só agora decidi blogá-lo pois achei necessário contextualiza-lo
escrevendo os artigos I e II. Vamos nessa!
- “Ele olhou em volta para ter a certeza de que ninguém
havia testemunhado o ato vil que acabara de cometer”. A distância, ainda
conseguia ver o compatriota a quem havia acabado de salvar. A seus pés, jazia o
egípcio. Uma grande mancha roxa despontava na cabeça do cadáver, exatamente no
ponto em que a pancada lhe atingira alguns minutos antes.
Seus pensamentos e suas emoções lhe fugiam ao controle,
transformando-se em um grande redemoinho que agitava seu interior. Antes que
ele se desse conta, suas pernas o conduziam em uma fuga desenfreada rumo aos
limites da cidade. O medo o controlava de tal maneira que ele não conseguia
pensar em outra coisa senão fugir para o mais longe possível, a um lugar onde
ninguém mais pudesse encontrá-lo.
Ao deixar os limites da cidade, ele finalmente se sentiu em
condições de parar para pensar no que acontecera. A lembrança de seu ato fez
sua cabeça girar outra vez, agora não mais por causa do pânico, mas por não
conseguir acreditar em tudo aquilo.Conforme as perguntas ecoavam em sua mente,
deixou de correr e passou a caminhar. Como teria sido capaz de fazer uma coisa
daquelas? Agora, ele perdeu a credibilidade, nada do que fizera no passado
teria valor. Estava marginalizado. Ninguém mais confiaria nele. Até mesmo sua
mãe adotiva o rejeitaria por ter matado alguém de seu povo.
Com certeza, Moisés nunca mais poderia aparecer no
palácio do faraó. Ele fora criado lá. Que grande privilégio era o fato de
ter sido criado como se fosse o neto do faraó; contudo, ele havia acabado de
jogar tudo isso no lixo. Até mesmo seu povo lhe virava o rosto. Embora
fossem escravos, os israelitas mantinham altos padrões morais, e o assassinato
não era visto com condescendência. Em um momento, Moisés tinha tudo a seu
favor; no instante seguinte, não tinha mais
nada.
Conforme se questionava, as lágrimas começaram a brotar à
medida que ele se dava conta da realidade de sua situação. Continuou caminhando
sem destino, os pés pesados pelo abatimento, os ombros arqueados pela culpa.
Cabisbaixo, ele se sentia incapaz de suportar aquele fardo imenso. Moisés quase
deixou de perceber que havia um poço no caminho. Apareceu como se
tivesse surgido do nada.
Ele caminhou tropegamente os últimos metros da ladeira que
o levava ao fundo da depressão onde o poço estava localizado. Esgotado por
causa da confusão que lhe drenara as forças nas últimas horas, o corpo de
Moisés ansiava por um período de descanso. Ele desmaiou à beira do poço; o
corpo e o espírito tombaram sob a pressão das circunstâncias.
Sentado entre as pedras que circundavam o poço, ele começou
a repassar mentalmente os fatos mais recentes. O sentimento de Moisés era de
total abandono. Não tinha nenhum lugar aonde ir. Não tinha mais um lar. Não
havia ninguém a quem recorrer. Seria condenado ao ostracismo e rejeitado pelo
único povo que conhecia. Aquele ato não prejudicara apenas seu relacionamento
com aqueles que o haviam criado — destruíra também, e de maneira definitiva,
qualquer esperança de ser aceito por seu povo.
Ele estava sozinho. Era a parte mais dolorosa de todo
aquele processo. Como alguém poderia estar em posição de tanto prestígio na
corte do faraó em um momento e, no seguinte, sentir-se tão solitário? Era
como se tudo o que conquistara lhe fosse arrancado à força, destruído por causa
de um ato impensado. Era como se lhe atravessassem uma faca no coração.
Por quanto tempo estava ali, parado perto do poço, nem o
próprio Moisés sabia. Horas? Talvez dias. Estava tudo muito confuso, e ele já
perdera a noção do tempo. Além disso, não fazia a menor diferença. Agora, o
poço era o único lugar que ele conhecia.
O fundo daquela depressão no meio do deserto se tornara um
local familiar a ele. No entanto, conforme o tempo passava, aos poucos ele
tomava consciência da realidade e de sua necessidade de seguir em
frente. Moisés não sabia o que deveria fazer; só sabia que
tinha de fazer alguma coisa, ir a algum lugar. Não dava mais para ficar
ali. Permanecer naquele lugar significaria a sua morte.
Uma parte dele queria desistir de tudo e morrer ali mesmo,
na beira do poço. Em contrapartida, ele sentia que havia a necessidade de
partir. Mas para onde?
Por fim, sentindo-se aliviado, Moisés abandonou o desejo de
permanecer no poço e deixar a morte chegar. Preferiu dar ouvidos a um chamado
cada vez mais forte para seguir adiante. Graças a uma débil centelha de energia
proveniente de alguma fonte misteriosa e desconhecida, ele venceu a fraqueza e
se pôs de pé.Vagarosamente, ele deixou o poço e decidiu partir. Subir a ladeira
para deixar a depressão do terreno em volta do poço não era uma tarefa fácil, e
exigiu que Moisés despendesse toda a sua energia. Ele deu um jeito de chegar
até o alto, parou e olhou para trás, na direção do poço. Aquele fora o seu lar
— seu único lar. Em certo sentido, ele detestava a ideia de partir, ainda que
tivesse a certeza de que aquele era o seu dever.Moisés nunca mais quis ver de
novo aquele poço. Seria uma experiência tão dolorosa quanto agradável, tão
fascinante quanto arrasadora. Ele tinha de seguir em frente, por maiores que
fossem as dificuldades. Moisés se virou e viu o horizonte diante de si. Para
onde ele iria? O que faria? Ele ainda não tinha idéia. Só sabia que tinha de
seguir em frente — lá fora, em qualquer lugar, em busca de alguma coisa, em
algum lugar.
Simplesmente
seguir em frente… em uma jornada. Afinal ele era um... “SIMPLESHUMANUS”.
Fim? Não, com certeza não. Talvez um novo
começo.
Obrigado por me acompanharem nesse meu momento pessoal.
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