O Poço - Parte III

 A ESCOLA DA AUTODESCOBERTA
Como dissemos no artigo anterior, se você começou ler agora e ainda não leu o artigo O Poço I e II seria legal se você pudesse fazê-los antes de prosseguir lendo este.
Amigos este texto já estava escrito a algumas semanas mas só agora decidi blogá-lo pois achei necessário contextualiza-lo escrevendo os artigos I e II.  Vamos nessa!
- “Ele olhou em volta para ter a certeza de que ninguém havia testemunhado o ato vil que acabara de cometer”. A distância, ainda conseguia ver o compatriota a quem havia acabado de salvar. A seus pés, jazia o egípcio. Uma grande mancha roxa despontava na cabeça do cadáver, exatamente no ponto em que a pancada lhe atingira alguns minutos antes.
Seus pensamentos e suas emoções lhe fugiam ao controle, transformando-se em um grande redemoinho que agitava seu interior. Antes que ele se desse conta, suas pernas o conduziam em uma fuga desenfreada rumo aos limites da cidade. O medo o controlava de tal maneira que ele não conseguia pensar em outra coisa senão fugir para o mais longe possível, a um lugar onde ninguém mais pudesse encontrá-lo.
Ao deixar os limites da cidade, ele finalmente se sentiu em condições de parar para pensar no que acontecera. A lembrança de seu ato fez sua cabeça girar outra vez, agora não mais por causa do pânico, mas por não conseguir acreditar em tudo aquilo.Conforme as perguntas ecoavam em sua mente, deixou de correr e passou a caminhar. Como teria sido capaz de fazer uma coisa daquelas? Agora, ele perdeu a credibilidade, nada do que fizera no passado teria valor. Estava marginalizado. Ninguém mais confiaria nele. Até mesmo sua mãe adotiva o rejeitaria por ter matado alguém de seu povo.
Com certeza, Moisés nunca mais poderia aparecer no palácio do faraó. Ele fora criado lá. Que grande privilégio era o fato de ter sido criado como se fosse o neto do faraó; contudo, ele havia acabado de jogar tudo isso no lixo. Até mesmo seu povo lhe virava o rosto. Embora fossem escravos, os israelitas mantinham altos padrões morais, e o assassinato não era visto com condescendência. Em um momento, Moisés tinha tudo a seu favor; no instante seguinte, não tinha mais nada.                                         
Conforme se questionava, as lágrimas começaram a brotar à medida que ele se dava conta da realidade de sua situação. Continuou caminhando sem destino, os pés pesados pelo abatimento, os ombros arqueados pela culpa. Cabisbaixo, ele se sentia incapaz de suportar aquele fardo imenso. Moisés quase deixou de perceber que havia um poço no caminho. Apareceu como se tivesse surgido do nada.
Ele caminhou tropegamente os últimos metros da ladeira que o levava ao fundo da depressão onde o poço estava localizado. Esgotado por causa da confusão que lhe drenara as forças nas últimas horas, o corpo de Moisés ansiava por um período de descanso. Ele desmaiou à beira do poço; o corpo e o espírito tombaram sob a pressão das circunstâncias.
 Sentado entre as pedras que circundavam o poço, ele começou a repassar mentalmente os fatos mais recentes. O sentimento de Moisés era de total abandono. Não tinha nenhum lugar aonde ir. Não tinha mais um lar. Não havia ninguém a quem recorrer. Seria condenado ao ostracismo e rejeitado pelo único povo que conhecia. Aquele ato não prejudicara apenas seu relacionamento com aqueles que o haviam criado — destruíra também, e de maneira definitiva, qualquer esperança de ser aceito por seu povo.
Ele estava sozinho. Era a parte mais dolorosa de todo aquele processo. Como alguém poderia estar em posição de tanto prestígio na corte do faraó em um momento e, no seguinte, sentir-se tão solitário? Era como se tudo o que conquistara lhe fosse arrancado à força, destruído por causa de um ato impensado. Era como se lhe atravessassem uma faca no coração.
Por quanto tempo estava ali, parado perto do poço, nem o próprio Moisés sabia. Horas? Talvez dias. Estava tudo muito confuso, e ele já perdera a noção do tempo. Além disso, não fazia a menor diferença. Agora, o poço era o único lugar que ele conhecia.
O fundo daquela depressão no meio do deserto se tornara um local familiar a ele. No entanto, conforme o tempo passava, aos poucos ele tomava consciência da realidade e de sua necessidade de seguir em frente. Moisés não sabia o que deveria fazer; só sabia que tinha de fazer alguma coisa, ir a algum lugar. Não dava mais para ficar ali. Permanecer naquele lugar significaria a sua morte.
Uma parte dele queria desistir de tudo e morrer ali mesmo, na beira do poço. Em contrapartida, ele sentia que havia a necessidade de partir. Mas para onde?
Por fim, sentindo-se aliviado, Moisés abandonou o desejo de permanecer no poço e deixar a morte chegar. Preferiu dar ouvidos a um chamado cada vez mais forte para seguir adiante. Graças a uma débil centelha de energia proveniente de alguma fonte misteriosa e desconhecida, ele venceu a fraqueza e se pôs de pé.Vagarosamente, ele deixou o poço e decidiu partir. Subir a ladeira para deixar a depressão do terreno em volta do poço não era uma tarefa fácil, e exigiu que Moisés despendesse toda a sua energia. Ele deu um jeito de chegar até o alto, parou e olhou para trás, na direção do poço. Aquele fora o seu lar — seu único lar. Em certo sentido, ele detestava a ideia de partir, ainda que tivesse a certeza de que aquele era o seu dever.Moisés nunca mais quis ver de novo aquele poço. Seria uma experiência tão dolorosa quanto agradável, tão fascinante quanto arrasadora. Ele tinha de seguir em frente, por maiores que fossem as dificuldades. Moisés se virou e viu o horizonte diante de si. Para onde ele iria? O que faria? Ele ainda não tinha idéia. Só sabia que tinha de seguir em frente — lá fora, em qualquer lugar, em busca de alguma coisa, em algum lugar.
Simplesmente seguir em frente… em uma jornada. Afinal ele era um... “SIMPLESHUMANUS”.
Fim? Não, com certeza não. Talvez um novo começo.
Obrigado por me acompanharem nesse meu momento pessoal.



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