Em meio às
comemorações da mais tradicional festa do ano, a pena capital dada a três
homens agitava a já fervente Jerusalém do ano 3790 do calendário hebraico. Passava
do meio-dia e um espetáculo de horror estava montado ali.
O monte
Gólgota ou Caveira servia de palco. A cena era a seguinte: “Três homens,
pendentes completamente nus em cruzes”. Porém, aquele que estava crucificado no
centro chamava mais a atenção. Nunca alguém tão grande se fizera tão pequeno.
Afinal, fora condenado devido a uma trama que misturou intolerância religiosa,
interesses políticos e uma boa quantidade de acusações falsas. Contudo, na hora
mais dramática da crucificação, a primeira hora, ele sofreu uma dor
insuportável.
Não havia
espaço para se ter outra reação a não ser gritar, ter reações violentas, reagir
por instinto. Mas para a nossa admiração, ele esqueceu-se de si mesmo e bradou
ao seu Pai que lhes perdoasse. Ele disse que seus carrascos não sabiam o que
faziam, desculpou-os sem que eles lhe pedissem desculpas. Compreendeu homens
incompreensíveis. Perdoou a homens imperdoáveis. Que inteligência é essa que
deixa extasiada a sociologia e a psicologia? Quem é esse homem? (se é que é possível
chamá-lo assim)
Ele é Jesus,
o ser humano mais famoso e fantástico da história, mas um dos menos conhecidos
nas magníficas áreas da sua personalidade. Ele foi o maior educador,
psicoterapeuta, socioterapeuta, pensador, pacifista, orador, filosofo,
construtor de amigos, empreendedor e incentivador da vida de todos os tempos.
Como
explicar uma reação assim diante da morte e do aparente fracasso? Por causa de
comportamentos como esse, têm surgido cada vez mais teorias de que o Cristo que
viveu há dois mil anos nas terras da Província da Judéia, nos confins do
Império Romano, é muito diferente daquele descrito nos evangelhos e que dividiu
em dois a História. Na contramão dessa polêmica, não poucos cientistas,
arqueólogos e historiadores cristãos contestam tais informações e reafirmam a
veracidade dos relatos bíblicos.
Pois, chegou
a vez da psicologia e da psiquiatria entrarem na disputa. O médico e
psicoterapeuta Augusto Jorge Cury, autor de uma teoria revolucionária sobre a
construção dos pensamentos - a da inteligência multifocal, reconhecida
internacionalmente -, da grande contribuição para que possamos melhor entender
Aquele que mais do que qualquer um se intitulava a si mesmo como o Filho do
Homem. E baseado em seus estudos é que queremos falar sobre aquele que embora
fosse Deus era também simplesmente humano.
- Ele era coerente, dócil, gentil, simples,
perspicaz, audacioso, poético, feliz e inteligentíssimo. Ele gostava de jantar
na casa das pessoas e de ter longas conversas com elas. Todos tinham acesso à
sua agenda - os grandes e os pequenos, os ricos e os miseráveis. Algumas de
suas características fogem completamente ao padrão psicológico previsível. Sob
o risco de morrer, ele, como qualquer ser humano, devia bloquear sua memória e
reagir por instinto, expressando medo e ansiedade. Mas, para espanto da
psiquiatria, Cristo abria as janelas da sua inteligência e gerenciava seus
pensamentos como ninguém o fez na História.
Na sua
humanidade, escondem-se as coisas mais belas e de que mais necessitamos: a
paciência, a tolerância, a capacidade de superação do medo, a singeleza,
domínio próprio, o diálogo aberto, a capacidade de contemplação do belo nas
pequenas coisas. A fantástica noticia é que o apóstolo Paulo comenta que todas
essas características podem ser comunicadas ao homem através do Espírito Santo.
O homem frágil e débil pode ter acesso à natureza de Deus. Pode ser comum por
fora, mas especial por dentro.
Como Filho
de Deus, desde o início da sua infância ele tinha a consciência do seu passado
eterno e atemporal. Isso não é uma crença teológica, mas psicológica. Só isso
explica porque, aos doze anos, quando seus pais o perderam, ele estava
discutindo com segurança com os mestres da lei, a ponto de deixá-los
maravilhados. Ficar longe dos pais deveria tê-lo deixado com medo, como
qualquer garoto. Mas ele mostrou um controle emocional que deixou sua mãe
pasmada. Com sua sabedoria, ele encantava seus amigos e fascinava seus
inimigos.
Especula-se
bastante sobre o que teria feito Jesus entre os 12 e os 30 anos, quando iniciou
sua trajetória pública. A questão é tão complexa que perturbou teólogos e
pensadores de todos os séculos. Dos 12 aos 30 anos, Jesus não foi para a Grécia
nem para a índia, como alguns especulam, para de lá extrair conhecimento. Ele fez
uma outra viagem, mais importante e difícil de ser realizada - viajou para
dentro de si mesmo a cada dia que viveu. Ficou nas imediações de Nazaré por
18 anos e nesse período vasculhou no anonimato seu próprio ser, analisou
suas experiências e as limitações humanas. Ele aprendeu a ser um homem
espetacular. Foi o Mestre dos mestres porque soube aprender. Conhecer um fato é
diferente de vivê-lo.
Como Deus,
ele conhecia a ansiedade, a discriminação social e as aflições humanas, mas
nunca as tinha vivido. Enxergava as nossas lágrimas, mas nunca as tinha
chorado.
O Filho de
Deus dizia com prazer que era o filho do homem. Ele, que era ilimitado,
aprisionou-se num corpo frágil e limitado. Todos temos limites e devemos cuidar
da nossa qualidade de vida para não falirmos com nossa saúde. Costumamos viver
extremamente estressados e com diversos sintomas psicossomáticos como cefaléia,
dores musculares e fadiga, devido à tensão, trabalho excessivo e
responsabilidades sociais. Jesus não era diferente. Todos os dias havia pessoas
suplicando por sua ajuda. Em algumas passagens bíblicas, podemos vê-lo rodeado
de discípulos, pessoas com interesses imediatos e até bajuladores. Pesava sobre
ele a responsabilidade de resgatar a humanidade para Deus. Ele era perseguido,
discriminado e ainda por cima tinha que perdoar e ter paciência, não apenas com
seus inimigos, mas também com seus amigos. Os discípulos não eram um fator de
alívio, mas de problemas. Eles não enxergavam seu plano transcendental e
frequentemente discutiam e entravam em disputa. Mas pelo fato de saber filtrar
tais estímulos, além de proteger sua emoção, Jesus tornou-se uma pessoa
tranquila, capaz de convidar as pessoas a aprender com ele a arte da mansidão.
O mais
humano dos humanos transbordava alegria, gostava de festas. Era extremamente
comunicativo e sociável. Tanto que do ponto de vista psiquiátrico, eu não
creio que seja possível se ter uma emoção mais alegre, serena e estruturada do
que a de Jesus; o Filho do Homem ou o SIMPLESMENTEHUMANUS
Amá-lo não é
apenas um ato de fé, mas uma decisão de muita inteligência.
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